quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
abelhas enfestam a cidade a procura de uma única flor
abelhas enfestam a cidade a procura de uma única flor, se possível, para alimentar de pólen e cera seus pobres filhotes, que padecem em suas caminhas hexagonais, enquanto, no escritório, a menina imagina o dia em que se livrará daquela profissão tão injusta e incompreendida no seu país de analfabetos. sintoma da crise econômica mundial que assola as diversas classes sociais no mundo ou simples retrato da desigualdade entre homens ociosos e abelhas trabalhadoras?
o velho mendigo, fã de Raul Seixas e Zé Ramalho, vê na revolta dos pequenos bichos o início da tão sonhada revolução, enquanto a moça, sentada em seu escritório, só pensa em como chegará em casa com aquele batalhão de famintos a porta de seu trabalho. o pior de toda essa situação é que mal sabe ela o que a aguarda do lado de fora do trabalho.
horas antes daquele pensamento tedioso de partir, a moça vibrava de felicidade pelo recado que o rapaz de seus sonhos havia lhe postado pela tela do computador. na mensagem, o rapaz dizia estar feliz por ter encontrado sentido a tudo aquilo que sentia quando encontrava-se com a amiga, nos momentos de lazer que os dois curtiam. disse que amava aqueles momentos por ser cada um deles único, e que sabia agora o sentido da palavra "amor" em sua vida.
depois de todas as declarações mais piegas do mundo acabou revelando à moça que ela era a flor mais cheirosa que ele havia colhido no jardim de toda a sua vida.
com as afirmações do amigo a moça na sua simplicidade de filha da classe média sentiu um alívio em estar sozinha no mundo, de poder ter a oportunidade de ser amada e de, quem sabe enfim, ter encontrado o adubo que faltava para a sua estática vida de flor solitária.
por causa de todos esses pensamentos belos, da moça exalava-se um cheiro de cumplicidade e prazer que nunca havia sentido sair de si mesma. logo surgiu o sonho de caminhar na relva, de receber véu e grinalda, de entrar numa igreja e de caminhar sobre um tapete de flores lindas, saídas do mais lindo jardim.
não sabia-se ao certo qual era o sonho mais real que se realizava, se os do mendigo que queria ver o mundo mudado, da velha sociedade alternativa; se os da menina dos cabelos lisos que sonhava com o amor mais belo e mais singelo possível; se o do seu corpo que se via penetrado pelo maior e mais correto membro do mundo; ou se o sonho das abelhas cidadãs que não encontravam mais jardim nem relva nem árvore nem sociedade nova a sua frente, só sentiam um cheiro forte de uma flor esperançosa.
dizem que por causa do cheiro da menina, as abelhas começaram a manifestar-se aguçadas pela vontade de salvar a vida de seus filhos. dizem até, que as abelhas, no caminho até a rua onde trabalhava a moça bonita, vinham voando em círculos, como que felizes por verem o grande dia chegar. dizem que elas dançavam como nunca haviam dançado antes e que o entusiasmo com que voavam tornava seu vôo mais rápido que todas as mensagens enviadas naquele dia através da grande rede de computadores.
o fato é que, ao chegarem ao ponto indicado pelos seus sentidos e instintos aguçados, as abelhas começaram a tomar as atitudes mais comuns a sua espécie. a primeira de todas foi pousar sobre a imagem da bela menina, que se apresentava a elas através do vidro limpo e não espelhado da janela da escritório. após esta tentativa frustrada formou-se uma assembléia em volta da abelha rainha que organizou o exército de operários para que tentassem outras entradas do prédio, enquanto os soldados ficariam de plantão em vôos circulares, mantendo todas as abelhas em alerta sobre o local onde estava instalada a única flor de toda a cidade.
a moça, que nem se dava conta que aquelas abelhas estavam ali por sua causa, apenas sonhava com o amante querido e as férias de fim de ano que ainda não chegavam. também se preocupava com a crise econômica que a impedia de exercer sua função de revisora dos textos daquela falida editora.
o mendigo nem se preocupava com os possíveis ferrões que aquelas abelhas poderiam aplicá-lo, mas se levantava, vibrando, ao ver que aquelas abelhas eram um grupo organizado, que não precisavam de partidos políticos ou qualquer tipo de direção, posto que a própria eleição da rainha era um fruto natural de seus instintos e sentimentos de enxame.
examinando bem, nem mesmo os homens mais organizados e instruídos tinham civilidade maior que a daqueles pequenos bichos. apesar disso, as tentativas de entrar no prédio da editora, invadir o escritório da menina-moça e sugar-lhe toda a essência de pólen, mel e amor que tanto precisavam para salvar a vida de sua classe, fracassavam. por isso decidiram tomar medidas diferentes das de sua natureza, decidindo portanto começar a protestar.
A primeira medida foi deixar de voar e começar a formar fileiras, todas de mãos dadas gritando o mais forte refrão que já se ouviu "flor, flor, flor, flor, flor, flor".
a natureza deixava de seguir as suas próprias leis, por causa dos seres humanos.
bichos que nunca cantaram e sempre voaram começavam a alterar suas próprias formas de viver.
o velho mendigo, que apoiava todas as atitudes das abelhas, visualizava naquela tentativa de aproximação, um problema seriíssimo para a luta dos pequenos: trair sua natureza em favor de uma luta justa podia ser uma ótima estratégia política, mas, como seria quando conseguissem encontrar a flor? teriam a mesma necessidade de abelhas que eram? e será que os homens estavam preparados para entender os protestos de bichos que não falavam sua língua? que não conviviam de maneira civilizada com eles, "respeitando seu espaço de trabalho"?
foram estes questionamentos que trouxeram, pela primeira vez na história da humanidade, a execução política sumaria de um ser humano por parte de abelhas revoltosas.
após esta primeira baixa na população hominídea a patrulha de zoonoses da prefeitura decidiu acabar de vez com aquela bagunça, e com a desculpa de trazer sossego e paz para os moradores e trabalhadores do bairro (o que escondia a decisão política de acabar com o movimento "terrorista" das abelhas), começou a atear fogo nas pobres abelhas, que já não podiam fugir dos ataques, visto que o fogo vinha de cima pra baixo e elas, estando no chão, não podiam alçar vôo, já que os seus corpos, pesados demais para as asas, não ganhavam velocidade suficiente para livrá-las dos ataques.
a moça, ao ver a solução adotada pela prefeitura ficou mais aliviada. agora podia ir pra casa tranquilamente, sem temer as ferroadas daquelas criaturinhas indesejadas. mal sabia ela que, na verdade, os homens lhe salvavam a vida. mal sabia que era a única flor possível da cidade, que era a mais desejada das mulheres do mundo e que tinha provocado a maior revolta e o maior genocídio de toda a história do mundo.
livre de qualquer preocupação, no fim do dia, a moça começa a caminhar sobre o tapete de abelhas mortas da rua. lembra do sonho de caminhar sobre o tapete de flores e se lembra que na cidade não tinha mais flores, que não fazia sentido aquele monte de abelhas a seus pés, como não havia sentido sonhar com relva, jardins, amor ou férias.
foi ficando triste, triste, triste até que encontrou seu bem amado.
do olhar saiu uma grossa lágrima, deitou-se no chão, até sentir diversas pontadas de agulha no corpo. foi ficando leve, leve, leve até que tudo foi se afastando de sua vista. Os Trabalhos, As Abelhas, As Flores, Os Amores...
e por fim A S L E T R A S.
Sessão falconiana
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Recado d'O Pai
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
alecrim é o riso
da natureza fechada
rosa é a cor da roupa
da moça que nela mora
cravo é a marca no rosto
do moço nela escondido
entre riso, cor e marca
o moço a moça convida
pra dançar na madrugada
com fadas e pirilampos
e na festa de pares lindos
o casal se vê distante
e vê na beleza dos outros
a beleza do instante
no ar
outro cheiro de alecrim
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
sábado, 1 de novembro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Vibrar
Tocar com sutileza e precisão
nota por nota
tecla por tecla
em sons infindos
e tomar o bairro de assalto
cumplicidade
de todos os lados
crimes para quem se toca
notas agudas e finas
às vezes graves no baixo
e o piano abre os ouvidos e toca:
música dos dedos
tudo vibra
tudo faz vibrar
e tudo é vida
sons que o instrumento do pianista tira
pianista vibra
e o instrumento não precisa
ambos se tocam; vibram:
vão vibrar
enfim
nasce a verdadeira canção
aquela
que toma conta
de todo o universo
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
terça-feira, 21 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Se...
...a sombra da árvore atrai o vento
e o vento em seu corpo atrai o vácuo
...o vago do dia atrai o tempo
e o tempo vago atrai pensar e sonho
...quem pensa que atrai sono embalado
e do ombro ao lado atrai seu rosto alheio
alia pensamento ao simples ato
que o corpo ao lado inclina de meneio
...assim reflito ao me descer cansaço
que o corpo ao lado atrai meu rosto triste
e como um xiste insiste-me encostado
o rosto da menina em que me deito.
atração
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
terça-feira, 23 de setembro de 2008
A primeira festa
Entre presentes e presenças, eis que se apresenta:
Linda!
A menina da rua de baixo,
Riso lindo!
indo e vindo
Pra lá i pra cá
Lindo olhar!!!
E tem uma pausa em cada gesto...
no andar
debaixo
acende a vela
acalma a alma
do rapaz
o coração e o champagne
disparam:
Doze anos!
completos!
Um sopro e começa outra festa...
com vela apagada e tudo!
sábado, 6 de setembro de 2008
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
sábado, 16 de agosto de 2008
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Contradicção
No dentro a chama acende e o peito arde
na tarde parecida a dor e ao riso
não há motivo pra essa ardência aguda
e pra essa chama ardida em peito frio
é tudo igual e tudo fica e grava
e nada mais me fita ou me apetece
se disso tudo um algo permanece
desta paixão ou ódio ou dor ou gozo
não sobra a flor ou barro ou sopro ou fogo
sábado, 26 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
sábado, 12 de julho de 2008
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