terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Independência ou morte



O ano é 1820, rumores de uma pátria independente soam por todos os cantos do país. Tornar o Brasil livre das amarras que o ligam ao poder central europeu parece um desejo de boa parte da elite intelectual brasileira. Também parece um consenso entre os donos de terra e posseiros, mas pouco agradável à família real, que já se aculturou e quer manter viva a imagem  de um país português em terras americanas. O príncipe, é mais do que tudo, um brasileiro.

Numa cidade colonial (Parati, Vila Velha, ou no velho Rio de Janeiro, pouco importa), um menino jovem de seus 12 pra 14 anos se arrasta pelas ruas de pedra, carregando nas costas um velho com seus muitos anos de vida. Os dois caminham feito bêbados, com passos cambaleantes, dando a impressão de que os desníveis da rua são bem maiores do que de fato se apresentam. Talvez pelo peso da idade do velho, que já não suportava tantos anos de agonia e pobreza vacante por aquelas ruas já antigas, ou pela fraqueza do menino que com um ar de moço pobre, aparentando aqueles prestadores de pequenos serviços às donas de casa daquele lugarejo e aos donos das mercearias e que já não demonstrava tanta alegria em caminhar de casa em casa, de mercearia em fornecedor, ou fazenda vizinha para levar um recado em troca de um mísero vintém. Não. Aquele menino moço já não guarda mais a jovialidade e peraltices de outros tempos. Não está feliz com as mudanças que nitidamente ocorrerão no país. Não se sente independente, nem sonha que os próximos passos da nação o farão melhor do que é hoje.

 O dia é claro. Ninguém suspeita o que está acontecendo por baixo da capa que envolve os dois personagens durante o trajeto. A capa é enorme, de couro de boi, que se arrasta pelas ruas deixando um rastro de poeira por onde eles passam. A cena lembra nosso senhor sendo carregado por São Cristóvam na travessia do rio. O peso do velho poderia ser o peso de Jesus menino, que trazia o milagre de pesar como um homem adulto de seus 33 anos, mas na verdade, o peso do velho sobre  o moço escondia um segredo que o afasta peremptoriamente desses santos personagens pintados em diversos afrescos e vitrais.

Como já disse, era 1820 ou próximo desse ano. As ruas e casas da cidade se agitavam com os rumores de conspiração contra vossa majestade o príncipe regente. O povo, apesar dos problemas no país, amava o herdeiro do trono de Portugal e amava fazer parte de um reino europeu, apesar de mal saber o que era Europa e o porquê de tal orgulho. Já o príncipe, nem queria saber daquelas terras, estava feliz com os humores e os amores que esta terra lhe proporcionavam; dos amigos e inimigos que por aqui cultivara; queria continuar despótica e esclarecidamente reinante sobre as terras e o povo do Brasil. Ainda que por essas bandas não houvesse toda a cultura letrada de que dispunha em sua terra natal.

Aqui nas terras brasileiras havia muita iníquidade, perversão dos costumes, baixarias das mais gratuitas, todas sem muita inibição e feitas ao calor do dia. Talvez fossem exatamente essas coisas que mantinham o jovem rei preso a essas terras tropicais. Era um amante da liberdade, e não seria difícil duvidar que se tornasse símbolo dessa liberdade, sonhada e articulada nos salões da corte no Brasil.

Como já disse, os dois personagens da primeira cena caminhavam alheios a todo esse furdunço, e talvez nem soubessem exatamente de que se tratava ao falar-se em liberdade, regência, independência ou morte. Eles eram apenas cúmplices que caminhavam pela rua carregando o peso da vida um do outro nas costas.

Não sei se deixei claro, mas era o menino que trazia nas costas o velho franzino, com ar de cansaço e fadiga de uma vida ruim. O velho, dependurado, deixava o seu corpo caído fazer sempre mais peso sobre as costas do menino. O moço com as calças arreadas, tinha que se equilibrar nas pedras do caminho, equilibrar o velho pendente e levantar de quando em vez as calças que lhe desciam das costas magras às nádegas e delas às coxas baixas. Um verdadeiro atropelo de vida que se apreciava.

O velho coro de boi, pouco conseguia cobrir o que da cena se avistava. Em certo momento, o velho fez sinal de que estava despertando de um sono profundo e sereno. Percebeu-se carregado por alguém de quem não se lembrava. Percebeu que estava pouco vestido, somente com a túnica velha e o coro que os cobria pelas costas. Sentindo algo estranho em seu corpo, uma espécie de prazer adivindo do movimento repetitivo da mão do menino levantando a calça que lhe caía e de seu corpo roçando nas costas do garoto que lhe carregava, sentiu um desejo de encostar seu pênis, agora ereto, nas partes íntimas do garoto que lhe prestava solidariedade. O menino, na ânsia de seguir seu intento de levar aquele homem a alguma parte segura para abriga-lo, não percebia o movimento do velho mal intencionado em suas costas. Seguia o seu caminho cambaleante e ainda vivo, sem olhar para os lados ou voltar para trás. Sentia somente a certeza de estar fazendo a coisa certa.

O velho continuava sonambulando sobre o moço, sem saber ao certo se o que sentia fazia parte do sonho ou não, Afinal, há anos que não sentia qualquer movimento de suas partes íntimas ou qualquer calor por alguém que lhe fosse do sexo oposto. Do seu mesmo sexo, pelo que se lembrava, não havia jamais sentido algo assim. Nem nas brincadeiras de criança sentia vontade de fazê-lo. Corria dos jogos infantis pensando que não ficaria feliz quando fosse a sua vez de se dar. Mas naquele instante era aquilo que sentia: tesão pelo ânus do amigo que lhe carregava.

Na tentativa de alcançar seu intento, foi levemente escorregando pelas costas do amigo, que já sem forças não objetou sua descida, arrastando-lhe os pés nas ruas de pedra e apoiando-lhe as mãos no pescoço. O velho tira-lhe do pescoço uma das mãos e ajeita sem membro ereto no cu. O amigo deixa-se penetrar. Tudo acontece muito rápido. O velho volta sua mão ao lugar e o movimento da caminhada completalhes o coito.

Acho que era 1822, o ano. O velho estava feliz com o coito completado, o jovem também não estava triste, apesar das pedras no caminho e do amigo pesado. Era um pequeno momento de euforia. Lhe doíam todas as partes, mas lhe parecia que naquele momento, os dois puderam sentir um pouquinho do que era o sentimento de liberdade.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Todas Numa

Acássia no cheiro
Bruna nos pelos
Clara na pele
Dolores no peito
Estela nos olhos
Flores nos lábios
Glória no rosto
Hortência no gosto
Ilária no gesto
Janaína no leito
Lívia no jeito
Luíza no reflexo

Margarida no riso amarelo
Nivea no sorriso sincero
Odara na paz que transmite
Plácida quando se permite
Querubina
Régia Regina
Salvadora Safira
Tulipa: taça, lida
Uma entre mil
Vitória no meio fio,
Xica quando fica,
Zoé
como a vida quer.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Dependência (A gente pensa)



a gente só pode falar o que o patrão manda
a gente só pode amar quando o outro ama
a gente só pode gozar com outr@ na cama
a gente não pode esperar se a pressa alcança
a gente não sabe cantar se para a banda
a gente não sabe berrar se a comida chega
a gente não sabe ir pra guerra se o inimigo arrega
a gente só sabe encontrar o que não é exposto
a gente só pode encontrar o que está no outro
a gente só pode embalar quando for criança
a gente só pode de ir a missa de corpo presente
a gente só quer o remédio se se souber doente

Brasil Moderno


Novela: não vê-la
Sertanejo: certo nojo
Universtitário: Universo Otário
Copa: tropa
Manifestação: infestação
Big Brother: Grande bode
Veja: Espia
Bolsa: pouca
Família: Humilha
Funk: Punk!
Rolê: não lê
Shopping: Stoping
Política: Paralítica

sábado, 28 de dezembro de 2013

Soneto do amor e do mar

 
Enquanto o mar vier roubar da praia
as marcas de amor e juras feitas
e o sol deixar sua luz a nossa espreita
e o amor ainda valer coisa que o valha
 
Ainda há de haver saudade estreita;
saudade que com o tempo não se apaga,
mesmo se a água calma a areia afaga
e as marcas de amor ele rejeita.
 
Mas há um mar maior que tudo oprime,
que é a falta de amor em nosso peito.
Este rejeita o mar e o que se exprime
 
na areia. Do mundo não há proveito,
da luz do Sol e Bem ele se exime
e tem no nosso mundo grande efeito.
 
 

sábado, 21 de julho de 2012

Trinta e um

Trinta e um

http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_interno.php?id=57#


E eu que sou mais um
faço tudinho igual todo dia trinta e um
E eu que sou só mais um
passo tão bem ou mal todo dia trinta e um

É que só no meu caso especial
Por acaso, do amor de dois em um
Trinta e um virou dia de natal
E dos meses, julho ganhou mais um

Hoje, portanto, dia bem comum
Vinte e sete eu vou comemorar
Entre tantas canções que eu vou cantar
Esse baião será só dejejum

(refrão)

Outros membros do clã do trinta e um
Não conheço ninguém e isso é normal
Nesse caso, então não tem zunzum
Pra que faltem amigos no sarau

Neste meu trinta e um, não leve a mal
Vou bagunçar a casa do João
Com feijuca, zueira e carnaval
E lhes chamo pra comemoração

quinta-feira, 12 de julho de 2012


Da direita ou da esquerda
que será que a gente herda?
ideais políticos
valores do cívico
ou política de merda!