domingo, 13 de março de 2011

Real abandonado

O idiota bebeu o whisky, fumou o cigarro, bebeu outro whisky e quando viu que ia passar da conta, foi pra casa. Pediu pizza e ficou assistindo qualquer talkshow  de televisão, pois a mulher dos seus sonhos o largara com um ramalhete de flores e um pote, cheio de esperanças de amor eterno, em um bar esquecido da noite de Nova York.

Esqueceu-se o idiota de que o pote de esperanças é um prato raso e vazio para mulheres fortes; que as mulheres quando gostam, não gostam das esperanças guardadas em palavras e gestos, ou em um coração juvenil apaixonado. Mulheres amam a frieza, as convicções e o sexo. O sexo do sexo oposto. Nenhuma demonstração de amor que seja muito verdadeira ou infantil lhes satifaz. O amor, pra mulher que sabe, tem que ser algo que pisa, algo que é muitas vezes sério e que vê o mundo pela ótica do material; que sabe enganá-la sem enganar, posto que engana na cama, na hora em que está disposta a receber qualquer mentira por verdade, visto que aquele é o único momento em que se sente única, adorada, amada de fato; que não é vítima das mentiras banais contadas pelos homens cotidianos, pois aquele que neste momento mente com palavras, esta lhe dizendo milhões de verdades através dos toques sutis e da força de seus braços que a envolvem de maneira singular e pura, pois é expressão de desejos compartilhados, é gozo sem falsidades. Com os olhos de quem sabe amarrar os próprios sapatos o homem que na nesta noite lhe fez as juras mais absurdas de amor, vai embora, e talvez nem lembre que ela (como ser complexo e cheio de desejos) um dia existiu. Porém nada disso importa. Os dois gozaram o momento, e gozaram juntos. Ela vai lembrar-se daquele homem eternamente e sonhará com ele todas as noites, pensando que ele poderia ser , quem sabe,  o homem da sua vida. 

O jovem paspalho, que a esperou por horas na mesa de um bar, sonha do mesmo jeito, os mesmos sonhos com relação a ela, porém sem nunca a ter penetrado nos sonhos. Chora e se desafoga cercado de pedaços de pizzas, anchovas, lágrimas e metades de seu coração juvenil espalhados pelo chão, amargurado pela sua incapacidade de julgar, aquilo que deveras parecia ser tão óbvio!